quinta-feira, 29 de março de 2012

Fernando Pessoa: vida e produção, trabalhos e análise literária

Fernando Pessoa


1. Além da Obra

Em 13 de junho de 1888, nasceu Fernando Antônio Nogueira Pessoa que, anos mais tarde, ficaria conhecido como Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses do século XX.
Ainda na infância, depois de perder o pai e o irmão, Pessoa foi morar na cidade de Durban, na África do Sul, com sua mãe e seu padastro. Nessa época teve contato tanto com a língua, quanto com a literatura inglesa, aprendizado que o influenciaria anos mais tarde.
Em 1903, ingressou na Universidade do Cabo, mas abandonou o curso e voltou em 1905, o poeta voltou a Portugal, lá matriculou-se no Curso Superior de Letras, mas também não terminou a graduação.
Pessoa começou a escrever ensaios e, por volta de 1912 iniciou sua colaboração como critico literario. Também trabalhou como editor, comentador político, inventor, astrólogo, tradutor e publicitário, sem deixar de escrever suas poesias e prosas.
Fernando Pessoa foi uma pessoa multifacetada, além de ter atuado em diversas áreas, como já dissemos. Pessoa ficou conhecido por escrever com diferentes heterônimos.
Sendo assim, nosso poeta criou alguns personagens para criar sua própria arte que seduz seus leitores até os dias de hoje.
Nosso poeta levou uma vida discreta, e ainda jovem, com apenas 47 anos, Pessoa faleceu na cidade de Lisboa em 1935, depois de apresentar sérios problemas de saúde, provavelmente causados pelo consumo de excessivo de álcool. Pessoa não foi somente escritor trabalhando com textos em verso e prosa, trabalhou como Pessoa viveu na África com seis anos, onde aprendeu inglês.

2. Análise literária

Antes de apresentarmos poemas e a analise dos poemas, vale apresentar algumas características do estilo de Fernando Pessoa, lembrando que são apenas características e o que devemos realmente levar em conta é como esses elementos se integram dentro da obra levando o leitor ou ouvinte a emoções e sensações distintas.

- Características Temáticas

. Identidade perdida
. Consciência do absurdo da existência
. Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade
. Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
. Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção
. Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero, frustração.
. Inquietação metafísica, dor de viver
. Auto-análise

-Características Estilísticas

. Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento da dor e do sofrimento)
. Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas)
. Predomínio da quadra e da quintilha (utilização de elementos formais tradicionais)
. Adjetivação expressiva
. Linguagem simples, mas muito expressiva (cheia de significados escondidos)
. Pontuação emotiva
. Comparações, metáforas originais, oximoros (vários paradoxos – pôr lado a lado duas realidades completamente opostas)
. Uso de símbolos (por vezes tradicionais, como o rio, a água, o mar, a brisa, a fonte, as rosas, o azul; ou modernos, como o andaime ou o cais)
. É fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular.
. Utilização de vários tempos verbais, cada um com o seu significado expressivo consoante a situação.

3. Análise da obra

“Autopsicografia”
(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele teve,
Mas só as que ele não tem

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração

Vamos iniciar esta analise a partir do título: psicografia é uma palavra que faz parte do vocabulário “espírita”, Fernando Pessoa tinha grande interesse pelo esoterismo. Caracteriza-se como a capacidade dos médiuns em escrever mensagens ditadas por espíritos, é uma espécie de “escrita automática”. Então nesse caso, autopsicografia, Pessoa é o espírito que dita para que Fernando Pessoa escreva, é como se o poeta psicografasse mensagens de um “eu-lirico” e nesse caso o “eu-lirico” é Fernando Pessoa. Ele tenta desvendar a si mesmo o mistério de sua poesia e a arte de ser poeta.
Na primeira estrofe: “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente”. Pessoa define o poeta como um “fingidor”, mas não nos iludamos com certezas, isto não quer dizer que todos os poetas fingem, lembrem-se que se trata de Pessoa falando de si, a si mesmo. É uma “escrita automática”, apenas descreve o autor, não responde ou explica nada, mas podemos observar uma revelação, que o fingimento serve para mascarar a dor. Pessoa sente uma dor que é real, mas através da poesia, que nesse caso funciona como uma espécie de filtro, a dor é sublimada a ponto de sumir e parecer fingida. Portanto a partir da poesia a dor já não é mais real, mas emocionada, raciocinada.
“E os que lêem o que escreve,/Na dor lida sentem bem/Não as duas que ele teve,/Mas só as que ele não tem”, o poeta agora fala de quem lê seus poemas, esse leitor pensa entender e até mesmo sentir a mesma dor sentida por ele, porém, engana-se, o poeta tem duas dores, a real e a fingida, enquanto que o leitor não tem nenhuma das duas, ele apenas sente a ausência da dor em si mesmo e não a dor do poeta. Essa ausência é a única coisa verdadeiramente sentida por quem lê, visto que a sublimação da dor em poesia só pode ser sentida por quem sente intimamente esse dor, que o leva a escrever.
“E assim nas calhas da roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se chama o coração”, Pessoa equipara o coração com a dor e com a emoção, o coração sente e “entretém a razão”. Ou seja, aquilo que o coração sente a razão usa para que o poeta “finja” e escreva a poesia, esta que segundo Pessoa é a intelectualização da emoção.

Reflexão:
Fernando Pessoa fala nesse poema que a poesia não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que ele imagina. O poeta escreve uma emoção pensada, fruto da razão, não a emoção sentida pelo coração simplesmente. O leitor por sua vez, não sente nem a emoção vivida pelo poeta e nem a racionalizada por ele, sente apenas o que na sua própria inteligência é provocado pelo poema.
Este poema foi escrito em 1930 e publicado em 1932, é um dos poemas mais conhecidos de Pessoa.

“Isto”
(Fernando Pessoa)

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação
Não com o coração

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda
Essa coisa é que é linda

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é
Sentir? Sinta quem lê!

Como em autopsicografia, estamos diante de um texto que tem como temática o fingimento.
Primeira estrofe: “Dizem que finjo ou minto/Tudo que escrevo. Não/Eu simplesmente sinto/Com a imaginação/Não com o coração”, o poeta apresenta sua tese, ele se defende da acusação de fingir o que sente, na verdade ele sente, mas não com o coração. De certa maneira esta estrofe nos revela a teoria poética Pessoana, Fernando Pessoa não considerava a poesia a passagem imediata da experiência à arte, opunha-se a toda a espontaneidade. Por isso, exigia a criação de uma emoção fingida sobre a emoção experimental.
O poeta, desde que se propõe escrever sobre uma emoção sentida, deve procurar representar, materializando-a, não nas linhas espontâneas em que ela se lhe desenhou na sensibilidade, mas no contorno imaginado que lhe dá, voltando-se para si mesmo e vendo-se a si próprio como tendo tido certa emoção.
”Tudo o que sonho ou passo,/O que me falha ou finda,/É como que um terraço/Sobre outra coisa ainda/Essa coisa é que é linda”, Pessoa na segunda estrofe compara tudo o que ele vive a um terraço, que seria o mundo real, este terraço esta sobre outra coisa e esta sim “é que é linda”, podemos aqui claramente perceber a filosofia platônica que tanto fascina o “eu- lírico”.
Assim explica-se a necessidade do poeta de usar a imaginação para fugir do mundo real e assim poder contemplar o mundo ideal, o perfeito.
Terceira estrofe: “Por isso escrevo em meio/Do que não está ao pé,/Livre do meu enleio,/Sério do que não é/Sentir? Sinta quem lê!,  esta estrofe é iniciada pela expressão por isso, que tem caráter conclusivo, nela é delineada a situação a que o “eu-lirico” chega no processo de criação a tarefa do poeta é uma viagem imaginária e não sentir. O “eu-lirico” se desliga do tema, “livre do meu enleio” e há um ato de fingimento de pura elaboração estética e o leitor que sinta o que ele comunica apesar de ele mesmo não sentir.

Reflexão:
Neste poema o sujeito poético utiliza a imaginação, deixando de parte todas às emoções.
Basicamente, este poema foi escrito como resposta à falta de compreensão, por parte dos leitores, do poema “Autopsicografia”. Como tal, no ultimo verso do poema, o sujeito poético dirige-se aos leitores para salientar a idéia de que a eles caberá um sentir diferente de poeta, isto é, cada leitor terá a liberdade de sentir o poema como quiser, seja com emoção, ou com inteligência.



Referências


Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/fernando_pessoa/biografia/>
Acessado em: 26 de março de 2012.

Acessado em: 26 de março de 2012.
Disponível em: http://www.notapositiva.com>
Acessado em: 27 de março de 2012.
Disponível em: <http://storamjoao.blogspot.com.br>
Acessado em: 27 de março de 2012.
Disponível em: <http://www.umfernandopessoa.com>
Acessado em: 27 de março de 2012.

sábado, 24 de março de 2012

Seja em vindo ao Blog Literatura com Fernando Pessoa!

http://marcodarvas.com.br/tag/minha-hora-agora/ 
Nosso Blog é fruto de um projeto onde você, aluno de literatura e, também, quem estiver interessado, poderá acompanhar um pouco sobre a vida e obra dessa grande escritor.
Confira nosso Projeto:
                                                                                                                                                     Introdução
Através  deste Blog, iremos apresentar a vida e a obra do grande escritor português Fernando Pessoa. Assim como a internet, Pessoa também era multifacetado, afinal ele escreveu inúmeras obras, sendo algumas assinadas por ele e outras por um de seus vários heterônimos. 

Objetivos
Objetivo Geral: Através desse projeto levaremos ao conhecimento dos alunos informações pessoais, bibliográficas e características literárias a respeito de Fernando Pessoa e seus heterônimos. E, também, propiciaremos um lugar especifico, onde os alunos possam entender e compartilhar as idéias desse autor.

Objetivos Específicos: São três os nossos objetivos principais. Primeiramente queremos levar o aluno a conhecer, reconhecer, distinguir e analisar os traços das obras literárias deste autor; levar o aluno a entender os poemas e prosas de Pessoa e, por último capacitar o aluno a realizar atividades e analises literárias das obras desse autor e seus heterônimos.

Justificativa
A ideia de trabalhar os traços literários e pessoais de Fernando Pessoa vem do fato desse   escritor possui uma obra tão cheia de características tão diferentes ao ponto dele conseguir sustentar diferentes heterônimos, cada um com sua própria identidade.
Apresentar sua obra aos alunos trás a possibilidade de mostrar a eles o quão rica, complexa e bela pode ser a literatura. Por isso,  a crianção desse Blog vem para facilitar o acesso a  Pessoa e a sua obra.

Metodologia
Vamos trabalhar essa apresentação postando semanalmente artigos, análises literárias e as próprias obras de Fernando Pessoa e seus três principais heterônimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Etapas do Projeto - Postaremos as mensagens da seguinte forma:
- 29 de março: Fernando Pessoa: vida e produção, trabalhos e análise literária;
- 05 de abril: Alberto Caeiro vida e produção, trabalhos e análise literária;
- 12 de abril: Ricardo Reis: vida e produção, trabalhos e análise literária;
- 19 de abril: Álvaro de Campos: vida e produção, trabalhos e análise literária;
- 26 de abril: Atividades relacionadas aos temas já previamente expostos;
- 03 de maio: Curiosidades sobre Fernando Pessoa;
-10 de maio: Atividades relacionadas aos temas já previamente expostos e indicações de leitura.
Resultados Esperados
Basicamente, esperamos que com o Blog os alunos agucem sua curiosidade para as obras desse escritor  e assim o motive a ler as demais obras.  


Referência (As demais referências serão postadas juntamente com os posts.)

Fernando Pessoa
Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/biografias/fernando-pessoa.jhtm>
Acesso em:  21 de março de 2012.