Fernando Pessoa
1. Além da Obra
1. Além da Obra
Em 13 de junho de 1888, nasceu
Fernando Antônio Nogueira Pessoa que, anos mais tarde, ficaria conhecido como
Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses do século XX.
Ainda na infância, depois de
perder o pai e o irmão, Pessoa foi morar na cidade de Durban, na África do Sul,
com sua mãe e seu padastro. Nessa época teve contato tanto com a língua, quanto
com a literatura inglesa, aprendizado que o influenciaria anos mais tarde.
Em 1903, ingressou na Universidade do Cabo, mas
abandonou o curso e voltou em 1905, o poeta voltou a Portugal, lá matriculou-se
no Curso Superior de
Letras, mas também não terminou a graduação.
Pessoa começou a escrever ensaios e, por volta de 1912
iniciou sua colaboração como critico literario. Também trabalhou como editor,
comentador político, inventor, astrólogo, tradutor e publicitário, sem
deixar de escrever suas poesias e prosas.
Fernando Pessoa foi uma pessoa multifacetada, além de ter
atuado em diversas áreas, como já dissemos. Pessoa ficou conhecido por
escrever com diferentes heterônimos.
Sendo assim, nosso poeta criou alguns personagens para criar
sua própria arte que seduz seus leitores até os dias de hoje.
Nosso poeta levou uma vida
discreta, e ainda jovem, com apenas 47 anos, Pessoa faleceu na cidade de Lisboa
em 1935, depois de apresentar sérios problemas de
saúde, provavelmente causados pelo consumo de excessivo
de álcool. Pessoa não foi somente escritor trabalhando com textos em verso
e prosa, trabalhou como Pessoa viveu na África com seis anos, onde aprendeu
inglês.
2. Análise literária
Antes de
apresentarmos poemas e a analise dos poemas, vale apresentar algumas
características do estilo de Fernando Pessoa, lembrando que são apenas
características e o que devemos realmente levar em conta é como esses elementos
se integram dentro da obra levando o leitor ou ouvinte a emoções e sensações
distintas.
- Características Temáticas
. Identidade
perdida
. Consciência do
absurdo da existência
. Tensão
sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade
. Oposição
sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
.
Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção
. Estados
negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero,
frustração.
. Inquietação
metafísica, dor de viver
. Auto-análise
-Características Estilísticas
. Musicalidade:
aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento
da dor e do sofrimento)
. Verso geralmente
curto (2 a 7 sílabas métricas)
. Predomínio da
quadra e da quintilha (utilização de elementos formais tradicionais)
. Adjetivação
expressiva
. Linguagem
simples, mas muito expressiva (cheia de significados escondidos)
. Pontuação
emotiva
. Comparações,
metáforas originais, oximoros (vários paradoxos – pôr lado a lado duas
realidades completamente opostas)
. Uso de símbolos
(por vezes tradicionais, como o rio, a água, o mar, a brisa, a fonte, as rosas,
o azul; ou modernos, como o andaime ou o cais)
. É fiel à
tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular.
. Utilização de
vários tempos verbais, cada um com o seu significado expressivo consoante a
situação.
“Autopsicografia”
(Fernando
Pessoa)
O
poeta é um fingidor
Finge
tão completamente
Que
chega a fingir que é dor
A
dor que deveras sente
E
os que lêem o que escreve,
Na
dor lida sentem bem
Não
as duas que ele teve,
Mas
só as que ele não tem
E
assim nas calhas da roda
Gira,
a entreter a razão,
Esse
comboio de corda
Que
se chama o coração
Vamos iniciar esta analise a partir do
título: psicografia é uma palavra que faz parte do vocabulário “espírita”,
Fernando Pessoa tinha grande interesse pelo esoterismo. Caracteriza-se como a
capacidade dos médiuns em escrever mensagens ditadas por espíritos, é uma
espécie de “escrita automática”. Então nesse caso, autopsicografia, Pessoa é o
espírito que dita para que Fernando Pessoa escreva, é como se o poeta
psicografasse mensagens de um “eu-lirico” e nesse caso o “eu-lirico” é Fernando
Pessoa. Ele tenta desvendar a si mesmo o mistério de sua poesia e a arte de ser
poeta.
Na primeira estrofe: “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir
que é dor/ A dor que deveras sente”. Pessoa define o poeta como um
“fingidor”, mas não nos iludamos com certezas, isto não quer dizer que todos os
poetas fingem, lembrem-se que se trata de Pessoa falando de si, a si mesmo. É
uma “escrita automática”, apenas descreve o autor, não responde ou explica
nada, mas podemos observar uma revelação, que o fingimento serve para mascarar
a dor. Pessoa sente uma dor que é real, mas através da poesia, que nesse caso
funciona como uma espécie de filtro, a dor é sublimada a ponto de sumir e
parecer fingida. Portanto a partir da poesia a dor já não é mais real, mas
emocionada, raciocinada.
“E os
que lêem o que escreve,/Na dor lida sentem bem/Não as duas que ele teve,/Mas só
as que ele não tem”,
o poeta agora fala de quem lê seus poemas, esse leitor pensa entender e até
mesmo sentir a mesma dor sentida por ele, porém, engana-se, o poeta tem duas
dores, a real e a fingida, enquanto que o leitor não tem nenhuma das duas, ele
apenas sente a ausência da dor em si mesmo e não a dor do poeta. Essa ausência
é a única coisa verdadeiramente sentida por quem lê, visto que a sublimação da
dor em poesia só pode ser sentida por quem sente intimamente esse dor, que o
leva a escrever.
“E
assim nas calhas da roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se
chama o coração”,
Pessoa equipara o coração com a dor e com a emoção, o coração sente e “entretém
a razão”. Ou seja, aquilo que o coração sente a razão usa para que o poeta “finja”
e escreva a poesia, esta que segundo Pessoa é a intelectualização da emoção.
Reflexão:
Fernando Pessoa fala nesse poema que a poesia
não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que ele imagina. O poeta
escreve uma emoção pensada, fruto da razão, não a emoção sentida pelo coração
simplesmente. O leitor por sua vez, não sente nem a emoção vivida pelo poeta e
nem a racionalizada por ele, sente apenas o que na sua própria inteligência é
provocado pelo poema.
Este poema foi escrito em 1930 e publicado em
1932, é um dos poemas mais conhecidos de Pessoa.
“Isto”
(Fernando Pessoa)
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação
Não com o coração
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda
Essa coisa é que é linda
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é
Sentir? Sinta quem lê!
Como em autopsicografia, estamos diante de um
texto que tem como temática o fingimento.
Primeira estrofe: “Dizem que finjo ou minto/Tudo que escrevo. Não/Eu simplesmente
sinto/Com a imaginação/Não com o coração”, o poeta apresenta sua tese, ele
se defende da acusação de fingir o que sente, na verdade ele sente, mas não com
o coração. De certa maneira esta estrofe nos revela a teoria poética Pessoana, Fernando
Pessoa não considerava a poesia a passagem imediata
da experiência à arte, opunha-se a toda a espontaneidade. Por isso, exigia a
criação de uma emoção fingida sobre a emoção experimental.
O poeta, desde que
se propõe escrever sobre uma emoção sentida, deve procurar representar,
materializando-a, não nas linhas espontâneas em que ela se lhe desenhou na
sensibilidade, mas no contorno imaginado que lhe dá, voltando-se para si mesmo
e vendo-se a si próprio como tendo tido certa emoção.
”Tudo o
que sonho ou passo,/O que me falha ou finda,/É como que um terraço/Sobre outra
coisa ainda/Essa coisa é que é linda”, Pessoa na segunda estrofe compara tudo o que
ele vive a um terraço, que seria o mundo real, este terraço esta sobre outra
coisa e esta sim “é que é linda”,
podemos aqui claramente perceber a filosofia platônica que tanto fascina o “eu-
lírico”.
Assim explica-se a necessidade do poeta de
usar a imaginação para fugir do mundo real e assim poder contemplar o mundo
ideal, o perfeito.
Terceira estrofe: “Por isso escrevo em meio/Do que não está ao pé,/Livre do meu
enleio,/Sério do que não é/Sentir? Sinta quem lê!, esta estrofe é iniciada pela expressão por
isso, que tem caráter conclusivo, nela é delineada a situação a que o
“eu-lirico” chega no processo de criação a tarefa do poeta é uma viagem
imaginária e não sentir. O “eu-lirico” se desliga do tema, “livre do meu enleio” e há um ato
de fingimento de pura elaboração estética e o leitor que sinta o que ele
comunica apesar de ele mesmo não sentir.
Reflexão:
Neste poema o sujeito poético utiliza a
imaginação, deixando de parte todas às emoções.
Basicamente, este poema foi escrito como
resposta à falta de compreensão, por parte dos leitores, do poema
“Autopsicografia”. Como tal, no ultimo verso do poema, o sujeito poético
dirige-se aos leitores para salientar a idéia de que a eles caberá um sentir
diferente de poeta, isto é, cada leitor terá a liberdade de sentir o poema como
quiser, seja com emoção, ou com inteligência.
Referências
Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/fernando_pessoa/biografia/>
Acessado em: 26 de março de 2012.
Disponível em: <http:/a/www.suapesquisa.com/biografias/fernando_pessoa.htm>
Acessado em: 26 de março de 2012.
Disponível em: http://www.notapositiva.com>
Acessado em: 27 de março de 2012.
Disponível em: <http://storamjoao.blogspot.com.br>
Acessado em: 27 de março de 2012.
Disponível em: <http://www.umfernandopessoa.com>
Acessado em: 27 de março de 2012.