quinta-feira, 19 de abril de 2012

Álvaro de Campos

Fernando Pessoa criou Álvaro de Campos que ficou conhecido como o maior heterónimo do poeta. Segundo Pessoa Álvaro nasceu em 1890, estudou engenharia mecânica, formou-se em engenharia naval e viveu na Escócia, morreu em 1935. 
Uma curiosidade sobre esse poeta, Álvaro foi o único entre as criações de Pessoa que apresentou três diferentes fases em sua obra, sendo assim passou pelo decadentismo, depois pelo Futurismo e, por último, pela chamada  Fase Abúlicólica .

Segundo o site Prof2000, segue a biografia completa desse poeta.



Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.
Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a sensação das coisas como são: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

TRAÇOS DA SUA POÉTICA
-   poeta modernista
-   poeta sensacionista (odes)
-   cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode Triunfal”)
-   cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode Marítima”)
-   cultor das sensações sem limite
-   poeta do verso torrencial e livre
-   poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral
-   poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”)
-   observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto
-   poeta da angústia existencial e da auto-ironia

1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)
- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações
- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)
-   abulia, tédio de viver
-   procura de sensações novas
-   busca de evasão
“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
“E eu vou buscar o ópio que consola.”

2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS
-FUTURISTA/SENSACIONISTA
Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.
- celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna
- apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina
- exalta o progresso técnico, a velocidade e a força
- procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante
- canta a civilização industrial
- recusa as verdades definitivas
- estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita
- intelectualização das sensações
- a sensação é tudo
- procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”
- cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino
- tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir
- exprime a energia ou a força que se manifesta na vida
- versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções (através de frases exclamativas, de apóstrofes, onomatopeias e oxímoros)
·        Futurismo
-   elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)
-   ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional
-   atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
·        Sensacionismo
-   vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)
-   sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)
-   cantor lúcido do mundo moderno

3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO
Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).
O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.
- caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração
- face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido
- frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior
-   dissolução do “eu”
-   a dor de pensar
-   conflito entre a realidade e o poeta
-   cansaço, tédio, abulia
-   angústia existencial
-   solidão
-   nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)

TRAÇOS ESTILÍSTICOS
-   verso livre, em geral, muito longo
-   assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)
-   grafismos expressivos
-   mistura de níveis de língua
-   enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva
-   desvios sintácticos
-   estrangeirismos, neologismos
-   subordinação de fonemas
-   construções nominais, infinitivas e gerundivas
-   metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles
-   estética não aristotélica na fase futurista
-  
Linhas Temáticas
Expressividade da linguagem
"     O canto do Ópio;
"     O desejo dum Além;
"     O canto da civilização moderna;
"     O desejo de sentir em excesso;
"     A espiritualização da matéria e a materialização do espírito;
"     O delírio sensorial;
"     O sadomasoquismo;
"     O pessimismo;
"     A inadaptação à realidade;
A angústia, o tédio, o cansaço;
"     A nostalgia da infância;
"     A dor de pensar.
Nível fónico
a)        Poemas muito extensos e poemas curtos;
b)        Versos brancos e versos rimados;
c)         Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas;
d)        Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas
Nível morfossintáctico
a)        Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos;
b)        Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.
Nível semântico
a)        apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.





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